quinta-feira, 30 de junho de 2011

IV

Carlos, também ele tirou o seu curso indo de seguida para a chamada guerra do ultramar. Uma guerra que o marcou psicologicamente tal como a todos os que por lá passaram. Vindo alguns com marcas bem mais pesadas, destroçados fisicamente. Deixando por lá filhos que jamais souberam quem foi o seu progenitor e eles próprios sem saber que os tinham por lá deixado. Guerra inútil mas que infelizmente existiu.
Depois de regressar à metrópole, como era chamado na altura ao território continental português, Carlos empregou-se numa repartição de finanças tendo mais tarde ocupado um lugar de referência no estado.
Depois de ter a sua vida profissional estabilizada casou com a mulher que esperou por ele enquanto em África se debatia com a tal guerra inglória. A mulher que o respeitou e amou sempre. Aquela que jamais saberá que Carolina existe assim como muitas outras Carolinas que já passaram na vida de Carlos.
Realizado profissionalmente ou não, porque na realidade nunca nos sentimos completamente realizados, Carlos foi tendo os seus affaires mais ou menos prolongados, que o iam ajudando a sentir-se sexualmente completo e perfeito.
Com a chegada das novas tecnologias primeiro a nível profissional, depois também a nível pessoal Carlos sentia-se como se costuma dizer, nas sete quintas. Entrou também ele nos tais sites onde foi mantendo contactos com diversas mulheres que de alguma forma lhe enchiam o ego e o tornavam mais senhor de si. Eis senão quando surge Carolina. Uma empatia inicial e os email’s, os sms’s sucediam-se uns após os outros numa troca de carinhos, de mimos, de palavras lindas cheias de sentimento e ternura que para ambos estavam a ser como água para saciar a sede que sentiam do tal amor – sexo que o casamento não lhes dava.
Do mundo virtual ao mundo real foi apenas um pequeno passo.
No dia em que se conheceram ambos estavam de fato, ele de gravata também, tinha acabado de sair do seu emprego e antes de ir para casa foi conhecer pessoalmente aquela que ultimamente ocupava os seus pensamentos, a Carolina. A menina do site que lhe correspondia nos mimos trocados.
Carolina estava nervosa ainda por cima não tinha tido tempo de ir ao cabeleireiro e o seu cabelo já branco estava mesclado, precisava de tinta. Quando fez essa referência a Carlos ele de imediato respondeu:
- Faz como eu não os pinto.
Carolina sentiu-se um pouco mais aliviada mas o nervoso miudinho que se tinha apoderado dela, esse continuava presente tornando a sua voz por vezes um pouco trémula. A conversa fluiu normalmente sem que tivessem feito qualquer reparo ao que tanto desejavam.
Após se separarem já ambos em seus carros Carlos enviou um sms a Carolina em que lhe perguntava:
- Queres namorar comigo?
no sms de resposta apenas uma palavra:
- Quero.
E foi este “quero” que a partir daquele momento fez a abertura para uma nova etapa na vida de ambos.

Sem comentários:

Enviar um comentário